quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Esculpindo vidas


Pessoal, depois de muitos meses sem escrever, hoje senti realmente a necessidade.

Nessa época de final de graduação, despedidas, formatura e preparação para uma nova etapa, a gente acaba fazendo um balanço dos anos de faculdade que envolve discorrer, dentre outras coisas, sobre o conhecimento adquirido a duras penas e também sobre aquele que passou batido por bobeira, por uma aula chata, um professor picareta ou mesmo por uma simples questão de não querer; enfim, o "balanço" é típico de momentos de transição e fazem parte do ritual de conclusão de uma etapa, seja ela bem cumprida, ou não.

Mas, ainda tenho um mês pra curtir os amigos e, as lamentações de vê-los partir junto com o momento único que é a tal da vida universitária, serão postadas no seu devido momento. Hoje, quero mesmo pensar no que realmente aprendi dos 18 anos até agora, freqüentando assiduamente os ambientes da FCL de Araraquara. Por hora (e pode ser que seja mesmo somente por hora, mas no fundo acredito que não), posso dizer que a única coisa que ficou consiste na certeza de que por mais que você tenha acesso a um conteúdo erudito proporcionado pela Universidade Pública, você pode não saber muito bem - ou nem um pouco - o que fazer com ele.

Não se trata aqui de pensar no mercado, uma vez que, para um futuro formado em Ciências Sociais está mais do que claro que no mercado, não há espaços de ação que não estejam restritos as salas de aula, ou melhor, na verdade, dizem que eles existem - temos até que cumprir com aquelas Práticas como Complemento Curricular - mas nunca ninguém viu, nem pôde ter o privilégio de saber como deveriam funcionar.
Pretendo deixar claro que eu, como uma pretensa estudiosa de Gênero, apesar de entender o funcionamento da construção social dos sexos, de saber as origens da desigualdade entre homens e mulheres e da dominação masculina, de compreender as "etapas" do feminismo, de tentar pensar um conceito de gênero que ultrapasse os binarismos do sexo e de querer compreender um pouco mais as teorias contemporâneas que discutem o sujeito e as identidades, posso, em minha vida pessoal, sempre buscar relações que estabelecem algum tipo de dominação, algum tipo de privilégio e de desigualdade. Ou seja, eu, como "acadêmica" e feminista, posso não ter a mínima condição, sapiência, sabedoria ou sensibilidade de mudar minhas pequenas ações cotidianas, minha atual condição de vida, nem mesmo fazer de minha relação com o outro algo prazeroso e leve.

Bom, tudo isso pra dizer que tão certa é afirmação de que o saber erudito nada tem a ver com o “saber de vida”, que hoje perdemos (eu, minha família e Araraquara) uma pessoinha que, em minha opinião, é uma das mais sábias que conheci; que tinha em si não o saber melhor ou pior, mas o saber necessário para desenvolver não só um lindíssimo trabalho como escultor de madeiras, mas também para executar a árdua tarefa de esculpir a própria vida e daqueles que o rodeavam sempre com um sorriso largo no rosto, com uma palavra doce e carinhosa e com uma história interessante na ponta da língua.

Mestre Jorge ou formalmente Jorge Brandão Coutinho, ferroviário, aposentado, pai do Josmar (sociólogo e professor de peso, puxou o pai), marido da Dona Ondina, meu amigo.

Começou a esculpir na juventude, com 25 anos, e só parou ao 78 anos, semana passada, quando foi pra UTI devido às conseqüências do cigarrinho que dividia espaço em suas mãos com os formões, as goivas, grosas e limas. Hoje, pra quem passa de sua simples moradia, no Jardim Santa Lúcia, pode ter contato com algumas das 400 obras produzidas pelo mestre e que se espalham pela prefeitura da cidade, pelo Palacete das Rosas, Corpo de Bombeiros, Santa Casa, e uma delas, cruzou o oceano e se encontra na África do Sul.


Eu, particularmente, tive o privilégio de conviver com o mestre, na medida do possível (a gente sempre passa menos tempo com as pessoas do que realmente gostaríamos de passar) e sempre ouvi dele que não havia dinheiro capaz de pagar o amor que possuía por suas peças de madeira, tanto que recusou, por inúmeras vezes vendê-las, mesmo que fosse em troca de um conforto maior. Mestre Jorge tinha como valor essencial a simplicidade e o carinho pelos amigos a quem chamava de “amigos do peito” e preferia dar-lhes suas obras de presente, por acreditar que estariam bem guardadas e conservadas; conservadas pelo carinho, admiração e amor impossíveis de não ter em relação ao Mestre. Os meus olhos ficam marejados pelo privilégio que tenho, eu e minha família, de guardar uma das obras do mestre em casa.

Hoje, fui ao velório e estava cheio. De amigos, parentes, admiradores, dentre eles, meu mais querido professor do Ensino Médio, o professor Manoel, vizinho do Mestre Jorge que apadrinhou a filha mais nova do professor. Curioso é lembrar de quantas vezes o professor Manoel falou do vizinho, amigo e quase irmão, durante as aulas da escola, querendo deixar-nos a mensagem de que é nas coisas simples da vida e na relação com as pessoas que encontramos o modo mais pleno de sabedoria. Hoje professor, entendi o recado. Entendi hoje quando o vi no canto pensando, certamente, em como o Mestre fará falta, não só para o senhor, mas para todos nós que o conhecemos. Na verdade, não só para os conhecidos, mas para aqueles que devem sentir a ausência dessa coisa humana e amiga que falta tanto nos dias de hoje e que tinha de sobra no Mestre.

Mestre Jorge esculpia as madeiras, a vida dos amigos, dos familiares, formou bem os filhos, que também detém o saber erudito, mas que cultivam a simplicidade do pai.....e eu também me sinto esculpida pela mestre....

Outro dia, conversando com a orientadora, ela disse que a gente só morre mesmo quando a última pessoa que lembrar da gente também partir, dessa forma, o Mestre não morrerá e daqui há 20 anos, quando abrirem essas caixas que a prefeitura espalhou pela cidade com alguma obra de arte que caracteriza Araraquara, lá estará a obra do Mestre, esculpindo mais algumas gerações.

Obrigada Mestre! Obrigada pelas mãos e palavras habilidosas! Obrigada por ter feito parte do meu processo de lapidação!


domingo, 22 de agosto de 2010

às amizades....



Expor opiniões certamente gera conflitos. Quantos amigos e conhecidos foram mandados embora de seus trabalhos em decorrência de uma opinião destoante daquela de seus chefes. E falo aqui daquelas opiniões do dia-a-dia, que se apresentam enquanto verdades e que as pessoas encaram, muitas vezes, como verdades absolutas, quando na realidade consistem somente em pontos de vista.

Também pensei nos momentos da vida quando se é possível falar o que se pensa sem sofrer determinadas represálias. Quando se tem por volta de 80 anos e já se construiu uma carreira considerável, com bons frutos, fala-se o que bem entende e, nada mais justo. Ninguém impediria Dercy Golçalves de falar car#$&@# no programa da Hebbe às nove da noite. Também não vão te impedir de fazer uma exposição de duas horas num congresso quando você deveria concluir em 40 minutos, se você é uma das pioneiras do movimento feminista no país (e ainda bem, pelo bem de nossa vontade de aprender ainda mais e mais).

Agora, vá dizer ao seu patrão que o necessário para sua subsistência equivale a trabalhar quatro horas de seu dia e que as outras 4 horas você produz para encher o bolso dele. Inclua nesse diálogo que isso tem um nome e foi profundamente estudado por um dos maiores pensadores que já tivemos e, pronto, lá se foram 15 anos de carreira. Vá dizer ao seu pai da vontade que você teve e tem de matá-lo devido aquela surra dada no dia em que você soltou o primeiro palavrão de sua vida, com tanto gosto, copiando a tia Balbina. Ou diga a sua mãe o quanto ela foi egoísta e mesquinha acreditando na idéia de que “a gente tem filho pra que eles cuidem de nós”. Lá vem mais meia hora de “boas” brigas, independentemente dos termos que você use e do seu tom de voz amigável e, por vezes, honesto e sincero.

Não estou aqui defendendo a idéia de que devemos sair por aí falando tudo aquilo que nos vem à mente como faz o personagem Boris (Larry David), do novo filme de Woody Allen. Seria bom, também retomando o filme, se ao invés de somatizarmos nossas raivas, pudéssemos quebrar o tabuleiro de xadrez na cabeça daquele pirralho infeliz que não consegue entender essa p..... de jogo. Seria mais leve também, se alguém pudesse quebrar o tabuleiro em nossa cabeça.

Mas, infelizmente ou felizmente, não é assim. E a gente se cala pra manter o trabalho, a vida pessoal em ordem, as boas relações, os amores e as amizades.....mas, peraí, as amizades? Ah não, essas devem permitir o mínimo de sinceridade. Poupar palavras quando se trata de amigos é reprimir demais indivíduos que já não podem dizer nada ou quase nada em outros âmbitos da vida em sociedade, não é mesmo?

Isso ainda piora, quando pedem sua opinião sobre determinado assunto e não têm o mínimo de sensibilidade e sapiência pra ouvir a resposta e refletir sobre, mesmo que seja pra dizer ao final “cala a boca, não quero mais saber o que você pensa sobre isso, sua idiota”. Pronto, já pararia de elaborar uma longa tese sobre a vida pessoal, amorosa e profissional de meu amigo ou amiga; pararia de dizer aquilo que é óbvio e que só ele/ela não vê, e, iríamos pro bar, tomar uma cerveja e comer uns torresmos como velhos e bons amigos que somos, oras.

Este ano, pra mim, foi o ano das sinceridades com minhas amizades. Disse tantas coisas a tantas pessoas, algumas abriram espaços para diálogos, outras não. As que abriram, passaram a ocupar um lugar ainda maior em minha vida e a ter minha mais absoluta consideração. Estas também me mostraram como, em grande parte das ocasiões, eu estava errada e cega. E pra que servem os amigos senão para falar de você, de seus defeitos e qualidades, tão bem, de maneira tão completa, como nem você mesmo o faria?

Vale também me desculpar pela grosseria que assumi em determinados momentos, mas, como disse minha amiga Gisele (que está indo embora e deixará saudades), “amigo é pra essas coisas”, pra você mandá-lo tomar naquele lugar quando julgar necessário.

Pois bem, venho por meio deste afirmar que, se os amigos são aquela família que a gente escolhe, eu prefiro optar por aqueles que não representem pra mim essa noção de família que impede, que priva, que busca estabelecer regras, quando na verdade, a única regra é tocar as amizades de maneira, sincera, livre e honesta. Penso que o âmbito das amizades é aquele onde estamos permitidos a tudo aquilo que todo o resto nos impede de fazer e dizer. Se não puder ser assim, prefiro que não seja de forma alguma.....aqui, mais um das tão caras sinceridades e, apesar delas e por elas, os amigos verdadeiros permanecem, sempre.





domingo, 15 de agosto de 2010

De fútil não temos nada: algumas considerações sobre a relevância da moda


Olá seguidores do Blog da Lara, como vocês já devem ter percebido nossa querida Lara “sempre acha muitas coisas” sobre diversos assuntos e entre eles transparecem seu gosto pela moda, gosto que compartilhamos e do qual temos sido “vítimas”, tanto no sentido literal quanto no figurado... foi a partir dessas “cutucadas” que me deu vontade de escrever esse texto com a colaboração sociológica e internética da nossa amiga, então lá vai...

Desde que comecei a me interessar por moda, maquiagem e estilo fui acusada várias vezes de estar perdendo meu tempo com futilidades. Quanto mais me acusavam, mais eu me interessava pelo assunto e me recusava a aceitar essa idéia de que moda é um assunto frívolo. Embora confesse que até já tive essa opinião, em uma fase da minha vida na qual eu achava que o importante não era como eu me vestia, mas o que eu era como pessoa, o que eu era “por dentro”. Essa mesma idéia aparece toda semana no discurso das participantes do programa Esquadrão da Moda, um dos responsáveis por despertar meu interesse pelo assunto. Infelizmente, tanto no caso das participantes quanto no meu, essa postura é adotada quando na verdade existe algum problema de auto-estima. Outro tipo de participante é aquela que “acha que está arrasando” e sempre exagera no decote ou comprimento das roupas, independe das suas proporções ou idade. O interessante é que depois de “ser transformada” pelo programa todas participantes se referem a uma recuperação da auto-estima e se sentem felizes, pois encontraram uma forma de mostrar sua verdadeira personalidade através das roupas. Nada mais justo afinal acredito que moda seja uma forma de expressão como qualquer outra. Existe algo que comunica mais do que uma camiseta de partido em época de campanha? Ou as roupas decotadas e curtas? E até mesmo uma dupla básica como calça jeans e camiseta branca não servem para “comunicar” que aquele sujeito pertence a uma determinada época, um pouco distante daquela na qual as calças jeans eram uniformes dos operários, e um período que a química dos corantes e tecidos permitem a existência de uma relês camiseta branca mais confortável e que agride menos o meio ambiente. Fora a iconografia de alguns elementos do vestuário como a queima dos sutiens para simbolizar a libertação da mulher no movimento feminista. Basicamente acredito que qualquer roupa e até maquiagem ou corte de cabelo são resultados de um longo processo histórico e identificam o sujeito como pertencente a uma certa época, um certo grupo social e uma certa profissão, para dizer o mínimo. O que não implica no fato das pessoas serem “obrigadas” a conhecerem a moda e as tendências, mas tendo algumas noções sobre esses assuntos ao invés de recusá-los sob alegação de “futilidade”, elas conseguem se “comunicar” melhor, passando mensagens mais coerentes para aqueles que a observam, afinal já passamos do período em que precisávamos recorrer a folhas e peles de animais (hoje tão controversas!) para nos proteger das agressões do meio ambiente. Atualmente podemos nos expressar visualmente, por meio da nossa aparência, sobre nosso estilo, etnia, personalidade, modo de pensar e viver. E como toda forma de expressão acredito que essa também deva ser livre, assim todo mundo tem o direito de usar o que quiser sem apontar para os que se preocupam com sua aparência e tem informações de moda rotulando-os de fúteis.

Para aqueles que acreditam que moda é futilidade parece antagônico, que uma pessoa inteligente, competente, focada em sua vida profissional se preocupe com a sua aparência. Como se a aparência não fosse importante no ambiente profissional, até mesmo para comunicar uma idéia de competência, adequação e consideração pelo ambiente de trabalho. Além disso, acho no mínimo limitante essa idéia de que por ter preocupações consideradas “intelectuais” eu não possa dedicar meu tempo e interesse para qualquer outro assunto diferente de temas ditos “inteligentes”. O ser humano seria muito limitado se pudesse ou devesse apenas se preocupar com um ou outro assunto na sua vida. Um exemplo disso é análise sociológica que Bourdieu fez sobre moda no artigo “Alta costura e alta cultura”, sob a seguinte justificativa, anunciada no título, “há lucros científicos ao se estudar cientificamente objetos indignos. Minha proposta se baseia na homologia de estrutura entre o campo de produção desta categoria particular de bens de luxo que são os bens da cultura legítima, a poesia ou a filosofia, etc. O que faz com que sempre que ao falar da alta costura eu esteja falando de alta cultura”. Em seu artigo o campo da moda mereceu uma análise focada nos dominantes, dominados, nas estratégias de conservação e subversão, levando-o a afirmar que “a lei implícita do campo é a distinção. Um emblema da classe (em todos os sentidos do termo) é destituído quando se perde seu poder distintivo, isto é, quando é divulgado. Quando a mini-saia chega aos bairros mineiros de Béthune, recomeça-se do zero [...] Assim como o campo das classes sociais e dos estilos de vida, o campo da produção tem uma estrutura que é o produto de sua história anterior e o princípio de sua história ulterior. O princípio de sua mudança, é a luta pelo monopólio da imposição da última diferença legítima, a última moda, e esta luta se completa pelo deslocamento progressivo do vencido ao passado. [...] O campo da moda é muito interessante porque ocupa uma posição intermediária (naturalmente num espaço teórico) entre um campo que organiza a sucessão, como o campo da burocracia, onde por definição os agentes devem ser permutáveis, e um campo onde as pessoas são radicalmente insubstituíveis; como o da criação artística ou literária ou o da criação profética”. A partir daí ele discute as possibilidades de superação dessa lógica que poderiam ser aplicadas em qualquer outro campo, como a educação por exemplo. “O que fazem, na verdade, as meninas que se vestem com roupas usadas? Elas contestam o monopólio da manipulação legítima deste truque específico que é o sagrado em matéria de costura, assim como os heréticos contestam o monopólio sacerdotal da leitura legítima. [...] O que quer dizer neste jogo é preciso fazer o jogo; os que iludem são iludidos e iludem muito melhor quanto mais iludidos forem; eles são muito mais mistificadores quando são mais mistificados”. Assim, até para negar a moda ou se posicionar de forma coerente com a afirmação de que ela é fútil precisamos de informação. Ao mesmo tempo em que é quase impossível ser indiferente a este campo que movimenta somas consideráveis de dinheiro e emprega uma grande quantidade de pessoas. A melhor tradução dessa idéia aparece no filme “O diabo veste Prada”, na voz da editora de moda da revista Runway, Miranda Priestly (Maryl Streep) conversando com a sua secretária Andréa “Andy” Sachs (Anne Hathaway), recém-formada em jornalismo e que queria trabalhar com coisas mais “importantes” que moda. “Você vai até o guarda roupa e escolhe esse suéter azul folgado para dizer ao mundo que se leva muito a sério para se importar com o que veste. O que você não sabe é que esse suéter não é apenas azul. Nem turquesa, nem lápis-lazuli. Na verdade, é cerúleo. E você não tem a menor noção de que em 2002 Oscar de la Renta fez vestidos cerúleos e Yves Saint Laurent jaquetas militares cerúleas. E o cerúleo logo foi visto em oito coleções diferentes. E acabou nas grandes magazines e, um tempo depois em alguma lojinha vagabunda de esquina, onde você sem dúvida o comprou em uma liquidação. Esse azul representa milhões de dólares e vários empregos e é meio cômico que ache que sua escolha a isente da indústria da moda, quando, de fato, usa um suéter que foi selecionado pelas pessoas daqui no meio de uma pilha de coisas".

Mais importante do que defender a idéia de que moda não é futilidade, defendo que moda é uma questão de escolha, e da mesma forma que qualquer outra escolha, temos o direito de não sermos julgados por uma visão estereotipada que as nossas opções carregam. Tenho consciência que todas as escolhas são socialmente condicionadas, ou seja, nunca neutras e plenamente livres, mas isso não impede que nos posicionemos dentro desse contexto. A diferença é que podemos nos posicionar de forma “menos” consciente, como no caso da personagem citada acima ou “mais” consciente, usando a moda como forma de expressar as conquistas das mulheres, nos apropriando do vestuário masculino, a oposição ao consumo, optando por comprar roupas clássicas em brechó, e até mesmo a preocupação social, comprando um Carlos Miele que emprega pessoas carentes em suas produções.

Olá queridos e queridas, este blog anda mto tristão.....então, darei uma pausa nas leituras pra escrever um pouco aqui....
Sabe que esses dias, numa de minhas aventuras pela tão ruim TV brasileira, parei de vasculhar os canais quando vi que a Ruth Escobar seria homenageada na maravilhosa TV Cultura (não sei pq vasculho tanto, já que sempre termino na Cultura).
Ruth, nascida em Portugal, atriz de vanguarda e militante feminista envolvida na luta contra a ditadura, abrigava em sua casa os perseguidos políticos da época e fazia questão de levar o teatro às ruas com um ônibus que adaptou pra isso.....
Choro a parte - e chorei mesmo, ainda mais quando ouvi O Bêbado e o Equilibista na voz de Elis que cantou durante a inauguração Do Teatro Ruth Escobar em São Paulo - vim aqui pra deixar o belo poema que Ruth declamou ao final da homenagem tão bem feita pela emissora, por sua filha, por seus amigos...
Ruth merece outro post no blog, e o farei em breve....por enquanto, deixo o poema, tão grandioso quanto a atriz que o declamou....

Cântico Negro
José Maria dos Reis Pereira

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

beijos....e até logo

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher????



"Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher" foi a frase dita pelo monstro Bruno alguns dias antes de atuar como mandante do assassinato da ex-amante Eliza Samudio. Bruno, quando afirmou tal frase, parte ainda constitutiva do imagináro de inúmeas pessoas, fazia referência ao caso do amigo de trabalho Adriano, que, pelo que parece, também gostava de se "divertir" dando tabefes na sua namorada.
O que mais me impressiona ainda nos casos de violência contra a mulher vai além da crueldade dessas histórias e falarei disso adiante. Agora, faço questão de enumerar aqui alguns casos antigos e marcantes, pois acredito que tais histórias não podem nunca ser esquecidas:

1)Angela Diniz, socialite mineira morta aos 32 anos, na tarde de 30 de dezembro de 1976, a tiros durante uma discussão com Doca Street, na época seu namorado. Vale dizer, Doca no primeiro julgamento foi condenado a somente dois anos de prisão baseado na tese de legítima defesa da honra do criminalista Evandro Lins e Silva. Devido às manifestações do movimento feminista da época e da sociedade civil, Doca foi levado a um segundo julgamento onde pegou uma pena de 15 anos, dos quais cumpriu somente cinco. Hoje está em liberdade, casado, aposentado e ainda tira uns trocos com a venda de um livro que publicou sobre o assassinato de Angela. No livro, conta que bebeu whiskey e nadou na piscina de sua mansão após matar a mineira, se diz um cara calmo e arrependido. E, pasmem, todas as matérias sobre Doca que li para escrever esse post, eu disse TODAS (apresentadas nas "Veja" e "Isto é " da vida, como sempre), nos remetem ao sentimento de compaixão para com esse cruel assassino.



2)Eloá, jovem de 15 anos, morta por seu namorado Lindemberg Fernandes Alves, após 100 horas mantida em cárcere privado. Policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) e da Tropa de Choque da Polícia Militar de São Paulo explodiram a porta - alegando, posteriormente, ter ouvido um disparo de arma de fogo no interior do apartamento - e entraram em luta corporal com Lindemberg, que teve tempo de atirar em direção às reféns matando Eloá. Impressionante nesse caso foi a atuação estúpida da polícia que invadiu o apartamento somente depois das 100 horas de cárcere; permitiu que Nayara (menina de branco na foto abaixo), amiga de Eloá, já liberta pelo assassino, voltasse ao apartamento para as negociações; e permitiu que Sônia Abrão (isso mesmo, Sônia Abrão, aquela senhora que insiste em se afimar como jornalista) intervisse diretamente nas negociações com Lindemberg, por telefone, exibindo a conversa, ao vivo, no seu programa na Rede TV. A incapacidade da polícia em lidar com esses casos valeria um outro post no blog, quem sabe...


3)Maria da Penha, mulher que deu nome a Lei de proteção às vitímas de violência, agredida pelo marido, que tentou assassiná-la duas vezes, durante seis anos. Com uma arma de fogo, deixou Maria paraplégica. A segunda tentativa foi por eletrocução e afogamento. O marido de Maria da Penha só foi punido depois de 19 anos de julgamento e ficou apenas dois anos em regime fechado. Em razão desse fato, o Centro pela Justiça e Direito Internacional e o Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), juntamente com a vítima, formalizaram uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, o que contribuiu, posteriormente, para a efetivação da Lei.


Voltamos então àquilo que eu disse acima, o que mais me impressiona nos inúmeros casos de violência contra mulher. Geralmente, temos um ciclo de violência e, chamamos ciclo, uma vez que as fases abaixo acontecem nessa ordem e sem interrupção:

Fase de Aumento de Tensão: A tensão do agressor aumenta por diversas razões e o seu comportamento torna-se bastante agressivo e indiferente ao esforço da vítima em acalmá-lo. Na relação violenta o aumento de tensão leva quase sempre ao uso de violência física e psicológica.Geralmente, a violência psicológica acontece antes do espancamento em si. E vale dizer, esse tipo de violência simbólica é tão cruel quanto a violência física.

Fase de Explosão: A violenta explosão ocorre no seguimento de um ataque de raiva, ou durante uma discussão. Estas explosões tendem a aumentar a intensidade com o passar dos anos.

Fase de “Lua-de-mel”: Se a reconciliação ocorre o casal pode passar por momentos muito íntimos, onde nenhuma das partes recordará a violência passada. O agressor pode ser comunicativo e responder às necessidades da vítima que acredita na mudança dele.

As mulheres agredidas, grande parte das vezes, dão queixa numa delegacia de mulher especializada como aconteceu com Eliza Samudio (vale dizer que muitos casos de violência acabam se mantendo por medo da vítima de realizar a denuncia, mas destes não podemos falar, pois não temos estatísticas registradas, só podemos imaginar que eles existam. E, uma vez sabendo de sua existência, vale aquele trabalho de "formiguinhas," quem sabe uma conversa com a mulher violentada. Afinal, quem nunca soube de um desses casos "escondidos", que circulam boatos pelo bairro?). A ex-amante de Bruno prestou depoimento em uma Delegacia de Mulher, acusando o goleiro de agredí-la e de fazer com que ela ingerisse um líquido abortivo. Pois bem, nada foi feito, ela não foi protegida como se esperava, o goleiro não foi chamado para dar explicações e as investigações sobre o caso só começaram depois de uma denúncia anônima que apontava para um lago e para uma possível morte. Morte sim, mas não no lago....

Então, o que mais me impressiona é a falta de eficiência na aplicação de uma lei que garanta a segurança da vítima de violência. Nada entendo de direito criminal nem mesmo de direito civil, portanto, não sei até que ponto é possível uma interferência efetiva no caso de qualquer tipo de violência. Mas, não penso que seja admissível tamanho descaso, não penso que as coisas possam chegar a tal ponto. Eliza está morta, morte brutal, morte demorada e dolorida, possivelmente devorada por cães. E foi o goleiro, não diretamente, diretamente foi o "Neném", mas foi o goleiro........como se não bastasse as palavras ditas por Bruno "Qual de vocês (jornalistas) que é casado que nunca brigou com a mulher? Que não discutiu, que não até saiu na mão com a mulher, né cara? Não tem jeito. Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher, xará". Como se não bastasse as inúmeras agressões e a denúncia de Eliza, bem como o fato dela dizer que foi forçada a tomar remédios abortivos. Não, não bastou.....a gente tem o péssimo hábito de meter a colher tarde demais......

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A voz literária do nosso tempo.....


Hoje o dia termina mais triste pra mim........
E aí eu fiquei pensando que algumas obras são como músicas, elas marcam nossa vida com tamanha intensidade que lembrar delas, de seus autores é ter recordações de momentos específicos que não voltam mais, e mais que isso, as grandes obras, assim como as grandes músicas, marcam um tempo.
Saramago foi meu rito de passagem, acho que o autor que mais me tocou no período de ingresso na faculdade. Ao contrário de muitas pessoas, não havia sido apresentada a ele antes, infelizmente (ou felizmente, já que ler uma grande obra, exige certa maturidade). Foi, então, como ser apresentada duplamente ao mundo, mundo que Saramago era capaz de expôr com uma sensibilidade inconparável. Como bem ressalta em Ensaio sobre a Cegueira, "a importância de se ter olhos quando todos já os perderam", Saramago tinha olhos, olhos atentos, críticos, sensíveis, comunistas e ateus. Penetrar em suas obras é "como entrar num bosque pela primeira vez e encontrar-me de repente com todas as árvores, todas as flores, todos os pássaros", quando disse isso em uma de suas entrevistas, parecia mesmo que falava de si.
Hoje eu chorei.....e apesar de no final "descobrirmos que a única condição da vida é morrer", penso que determinadas pessoas não deveriam deixar esse mundo. Mas o que fica? Sua vasta obra aberta a exploração que sem dúvida representa a voz literária de nosso tempo.......

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Relato de uma noite ruim

olá pessoal, faz tempo que não posto nada aqui né?Pois bem, hoje o post será engraçado pq, afinal de contas estou de bom humor (apesar das tensas últimas semanas).
Geralmente a gente coloca no blog algo que vimos e/ou ouvimos e gostamos. Uma boa música, um bom filme, um bom show ao lado dos amigos. Raramente postamos sobre aquela porcaria de sábado ou sexta a noite que só fez a gente gastar dinheiro a toa e ganhar uma ruga a mais na testa....então vamos lá...
Ainda não!Antes, devo dizer que isso aqui é só um texto e que ele não foi inspirado num dia específico, portanto, nem tentem adivinhar qual foi a "balada" da famosa pergunta: "meu, o que eu to fazendo aqui?"....que será impossível.
Tudo começa com um convite antecipado e com aquela ansiedade de em breve ouvir um bom som ao lado das gurias. Porque imagino que vocês saibam como é difícil viver em uma cidade conhecida por suas "micanejas" universitárias.
Na semana que antecede o "espetáculo" a gente pega os Cds antigos, bota no carro, ou no MP20 e escuta o dia todo a banda que receberá (ou não) o tributo.
Outro dilema é a roupa, quer dizer, nem tão grande dilema assim já que existe o famoso Esquadrão da Moda e uma loja de 18 reais na cidade (isso mesmo, qualquer peça por 18 reais). Então a gente assiste ao programa, já repara logo na roupa da apresentadora (o que é permitido no meu caso, já que eu também tenho quase dois metros de altura. Embora o peso eu jamais alcance...rs) faz um tour pelas lojas barateiras da cidade e bingo!!! Temos uma cópia bem razoável da Colcci.
Chegado o grande dia começa a via sacra, passa na casa de um, passa na casa de outra e o carro fica cheio, pronto pra partir (quanto mais cheio melhor, pois além de mais divertido, gasta-se menos com alcool combustível, guardando-se mais para o outro tipo de alcool). Mas, eis que uma cidadã esquece sua carteirinha de estudante no meio do caminho e, todo mundo num grande coro de "aaaaaaahhhhhhhh" decide voltar pra pegar...(mentira, não houve tanta delicadeza assim no coro:"puta que pariu, a cabeça você trouxe né?). E também, não existe a mínima possibilidade de pagar o dobro e deixar a carteirinha. Lembra da loja de 18 reais??? Então, tem que ser barato já que a vida universitária, além das micanejas, é caracterizada pela falta de dinheiro.
Deveriamos ter em mente que, quando alguém esquece alguma coisa em casa ou quando acontece algo de ruim logo no começo da noite, a melhor coisa é voltar cada uma pra sua "house" e ver a Hebbe, ou, dependendo do dia, o Globo Repórter. Mas não, a gente insiste....
Atravessamos a cidade toda, ou melhor, mudamos de cidade em busca do bom som. Chegamos no local a tempo, já que ninguém esqueceu mais de nada....ops, na verdade esquecemos sim!!!Esquecemos que no dia seguinte seria um feriado ou o dia das mães, logo, temos uma explicação para a TOTAL falta de gente no recinto, uma vez que parte das pessoas que buscam o bom som bem no lugar onde estávamos, são da facul e não são orfãs de mãe (ainda bem)...dessa forma, elas voltam pra sua cidade natal...
Chegando lá também nos deparamos com a dura realidade de que não é todo mundo que assiste ao Esquadrão e talvez por isso nos olharam "de cima embaixo" só porque não estávamos de chinelo hawaianas nem tínhamos Dread's no cabelo....mas, tudo bem, chamar a atenção não é de todo ruim. A não ser que seja do cara mais nerd da "festa", aquele que faz física e que tem soluços ao falar (adoro nerds e os defendo, mas nerdisse tem limite), ou então, do "organizador" do evento que veio se desculpar pelo fiasco....(só não entendi muito bem pq as desculpas vieram pra nossa turma, nem conhecíamos o rapaz.... de repente foi pela nossa cara feia.....será?)
E o som começa.....bom, ao menos o som vai ser bom....e um som bom supera qualquer stress com qualquer pessoa que possa vir a esquecer qualquer coisa....doce ilusão, o som era péssimo, o vocal miava feito um pato gripado....uai, mas pato não mia....pois é, esse miava....disseram que a banda boa só veio tocar as 4 da madruga....impossível esperar....ainda mais quando o dinheiro pro segundo tipo de alcool não tava sobrando tanto assim....
Resultado: a ruga na testa e o nascimento de um amorzinho por essa tão querida cidade das micanejas universitárias.....
Rendeu um post no blog.....um salve às noite zuadas.....
bjos
Lara

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Mal Estar na civilização

Olá pessoas, faz tempo que não escrevo e, na verdade, não falarei hoje.
Estava lendo o texto Mal Estar na Civilização de Freud para minha pesquisa (que agora espero que caminhe) e me deparei com questões interessantes que gostaria de deixar aqui. Na verdade não terminei de ler o texto, estou fazendo-o neste exato momento. Dessa forma, não o discutirei, e também não teria bagagem para tal, somente deixarei um trecho que penso merecer uma "blogada" (esse termo existe no mundo virtual?rs)

"O que chamamos de felicidade, no sentido mais restrito provém da satisfação(de preferência repentina) de necessidades represadas em alto grau, sendo, por sua natureza, possível apenas como uma manifestação episódica. Quando qualquer situação desejada pelo princípio do prazer se prolonga, ela produz tão somente um sentimento de contentamento muito tênue. Somos feitos de modo a só poder derivar prazer intenso de um contraste e, muito pouco de um determinado estado de coisas.
Assim, nossas possibilidades de felicidade são restringidas à nossa própria constituição . Já a infelicidade é muito menos difícil de se experimentar. O sofrimento nos ameaça a partir de três direções: de nosso próprio corpo destinado a decadência e a di ssolução, e que nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a ansiedade como sinais de advertência; do mudno externo que pode voltar-se conta nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosas; e, finalmente, de nosso relacionamento com outros indivíduos. O sofrimento que provém dessa ultima fonte, talvez nos seja mais penoso do que qualquer outro. Tendemos a encará-lo como uma espécie de acrescimo gratuito, embora ele não possa ser menos fatidicamente inevitável do que o sofrimento oriundo de outras fontes."

abraços
Lara

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Coco avant Chanel


Esse post leva o nome do filme de Anne Fontaine sobre a vida da estilista que transformou a moda do século XX livrando as mulheres dos tais corseletes e de todas aquelas roupas terríveis que mais pareciam bolos de casamento. A poderosa Chanel não é retratada no filme; ao contrário do que se pensa, e como mostra o título, o que é posto em cena é a vida da orfã que costurava de dia e cantava nos cabarés franceses a noite. Uma menina séria, tímida e instrospectiva que fazia questão de se vestir como os homens da época. A frase que se repete no filme é: " Vou soltar esse vestido pra você se movimentar melhor" ou "eu tiraria esse arranjo, muito carnavalesco". Coco estava sempre de calça, camisa e com um chapéu bem masculino; fora que o sobretudo aparece sempre....tá, eu tenho uma "queda" por sobretudo....vou parar com isso...rs


Quanto à atuação de Audrey Tautou, sou suspeita para falar,ainda mais depois de Amélie Poulain (que consta no meu top 10). Acabei sendo levada a gostar de todas as protagonistas feitas por ela. Tautou possui uma sensibilidade incrível. Críticas a parte (e pode-se mesmo dizer que Chanel não foi tão bem feita como, por exemplo, Piaf em La Môme) Tautou conseguiu manter-se de testa enrugada e com o cigarro na boca, habitos típicos da estilista. Além do mais, como bem coloca a crítica do http://omelete.com.br/cinema/critica-coco-antes-de-chanel, "o filme não coloca o envolvimento de Chanel com nazistas, o que lhe rendeu uma prisão por crimes de guerra, um exílio de uma década e o ódio dos franceses. Tudo isso vai para sob o tapete, e a biografia da estilista ganha, cada vez mais, ares de história da carochinha. Uma carochinha muito bem vestida, aliás."
Pois bem, roupas incríveis (eu bem queria um dos vestidos e, claro, o sobretudo....rsrs), Tautou bem, mas nem tanto; não foi para fazer uma crítica cinematográfica que decidi escrever...
Além dos filmes dos anos 60 e dos filmes sobre os anos 60, me interessa bastante a vida dessas grandes mulheres que a história nos dá. Chanel foi uma delas e, durante o filme, assim como quando vi a obra sobre a vida da grande Edith Piaf, fiquei pensando no perfil dessas "divas".
Geralmente, uma mulher bem sucedida em sua vida profissional abre mão de viver um grande amor. No caso de Chanel isso é visível, ela nunca se casou (e não estou dizendo que casamento é sinônimo de amor bem sucedido, aliás, penso que seja o contrário, mas o casamento é algo bem discutido no filme ) e, vez ou outra dizia: "o melhor do amor é fazer amor, pena que precisa-se de um cara pra isso". Piaf também era bem avessa às "aventuras amorosas" e ao comportametno masculino, talvez por não ter uma boa e consistente imagem do "pai" (pode ser que Freud o explique, eu não farei isso aqui).
Nas duas histórias, elas eram as amantes da relação e o único grande amor vivído por elas é perdido de forma trágica, num acidente.
Podia até ser um cena de ficção, não? Mas não é...
O filme também trás outras "questões de gênero", por exemplo, a companheira de Coco, que sonhava se casar com um dos barões da história e que não é apresentada a família do rapaz; a própria Coco vive uma relação de submissão com Étienne Balsan, homem que ela conheceu na noite parisiense, que nunca gostou nem aceitou seu jeito de ser e se vestir, jeito esse usado para a diversão da "bourgeoisie parisienne" frequentadora da casa de Balsan. Caso interessante de submissão este, uma vez que Coco sempre foi uma mulher independente financeiramente, o que mostra que a dependência financeira não é, muitas vezes, o que leva uma mulher a tocar uma vida submissa e limitada; poderíamos usar o habitus do Bourdieu pra argumentar sobre isso, mas o objetivo é mesmo levantar questões, sem recorrer à Acadêmia.

Mas Coco viveu essa vida por um breve período de tempo, até conseguir dinheiro para montar seu próprio ateliê....de onde vem o dinheiro? Do bolso de "Boy" Capel, o segundo homem da história, esse sim o amor de verdade. Aliás, outra frase que merece destaque nesse nosso debate de gênero é dita por ele -"eu achei que fosse te dar um brinquedo e vc transformou isso em trabalho"....idéia essa presente ainda no nosso repertório contemporâneo, lembrei quando Maluf disse que as professoras do Ensino Básico não deveriam querer ganhar mais, deveriam mudar de marido....lamentável....
Lembrei também dos meus trabalhos de campo da faculdade entrevistando mulheres que afirmavam ter sucesso profissional e pessoal e, mesmo assim, diziam sentir que faltava algo em suas vidas, esse algo era o filho, tão buscado e colocado ainda como necessário à mulher para que ela se sinta completa.....

Pois olha como um filme sobre a vida de uma mulher que viveu no início do século XX abre espaço para pensarmos questões ainda tão impregnadas em nosso imaginário atual. O casamento, ainda tão forte hoje em dia; a necessidade imposta às mulheres de que elas precisam, a todo momento, ter um homem do seu lado, mesmo que ele for um idiota (vide o bombardeio de livros de auto-ajuda destinados as solteiras, que levam títulos do tipo "Tenha sucesso profissional, mas, pelo amor de Deus, arrume um marido"); a submissão feminina que ainda se mantém e que, de forma alguma está somente vinculada ao dinheiro.

E, por fim, vale ressaltar, digo"as mulheres", porque não sinto as mesmas exigências em relação aos homens. Tá aberto o direito a defesa da ala masculina visitante do blog....por favor....rs

Beijos

Lara






quinta-feira, 29 de abril de 2010

L’étranger

Baudelaire, toujours Baudelaire....

Gosto muito dele e do poema abaixo.....coloquei o original, pois minha busca por conhecer o francês não me permitiu tacar direto a tradução.....mas em seguida lá está ela.....vale dizer que o verbo "aimer" pode ser traduzido como "gostar" ou "amar", portanto, sinta-se a vontade :-)...

"Qui Aimes-tu le mieux, homme énigmatique, dis? Ton père, ta mère, ta soeur ou ton frère?
_ Je n'ai ni père, ni mère, ni soeur, ni frère.
_Tes amis?
_Vous vous servez là d'une parole dont le sens m'est restée jusqu'à ce jour inconnu.
_Ta Patrie?
_J'ignore sous quelle latitude elle est située.
_La Beauté?
_Je l'amerais volontiers, déesse et imortelle.
_L'or?
_je le hais comme vous haïssez Dieu.
_Eh! Qu'aimes-tu donc, extraordinaire étranger ?
_J'aime les nuages...les nuages qui passent....là-bas...là-bas....les merveilheux nuages!"

"_De que você mais gosta, homem enigmático, diga? Seu pai, sua mãe, sua irmã ou seu irmão?
_Eu não tenho nem pai, nem mãe, nem irmã, nem irmão.
_Seus amigos?
_Você se serve de uma palavra cujo sentido eu desconheço, até este dia.
_Sua pátria?
_Eu ignoro qual latitude ela está situada.
_A beleza?
_Amá-la-ia de vontade, divina e imortal.
_ O ouro?
_Eu o odeio como você odeia à Deus.
_ Do que você gosta então, extraordinário estrangeiro?
_ Eu gosto das nuvens...das nuvens que passam...lá longe...lá longe....as maravilhosas nuvens!"

Bisous....

segunda-feira, 26 de abril de 2010

La nuit

Esses dias eu estava pensando de onde vem esse meu fascínio pela noite. Não tem nenhum músico, nem mesmo nenhum crupiê em minha família.Vale dizer que não falo da night das baladas sertanejas universitárias, até porque não gosto desse tipo de música e foi-se o tempo em que eu bebia um pouco para "encarar" a festa com música "ruim". E quem me conhece bem sabe que, ultimamente, não adianta insistir.
Bom, falo da noite.....essa que começa por volta das 18h30!
A noite, é tão fresca. Mesmo as noites quentes araraquarenses tornam-se suportáveis quando fico cinco minutos na mureta do quintal de casa. Agora o dia não, não há cinco minutos ao ar livre que refresquem meu cérebro, fora que a claridade em demasia deixa os olhos marejados.
Na noite as pessoas ficam tão mais interessantes. tenho a impressão de que elas falam menos e num tom de voz mais baixo, muito mais chique. Fora a roupa, se for uma noite fria, melhor, pois o charme fica garantido com um belo sobretudo, ainda mais se quem estiver vestindo for um homem; eles ficam muito bem de sobretudo, pena que não usam, nem no inverno. Você já pensou naquela cena ideial? Aquela que você sonha vivenciar um dia qualquer de vida? Pois a minha é sentada num Café Parisien (de preferência onde Simone e Sarte se encontravam pra discutir o existencialismo) de sobretudo e boina, fumando um cigarro. Mas eu nem fumo...bom, abriria uma exceção...pela noite...
A noite é silenciosa. A casa fica quieta, a vizinhança também. Até Marx, Weber e Durkheim descem melhor.
Pena que a noite não foi feita para as moças né? Sempre ouvi dizer que não é recomendável sair sozinha a noite pela rua. Talvez daí meu fascínio...é, pode ser.
Admiro as pessoas que trabalham a noite, que estudam a noite (aliás, o curso noturno é sempre muito mais interessante. Eu não tenho sono. De manhã e a tarde tenho, ainda mais depois de "bandejar", mas a noite não. E os professores dizem "o noturno é mais interessado nas aulas")
Ah, a noite....se o mundo não funcionasse de dia eu trocaria meus horários. Se a graduação não funcionasse de dia, se os bancos não abrissem de dia, se minha mãe não me acordasse de dia....ah, a noite....

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Davida


Encontrei o livro Filha, mãe, avó e puta: a história de uma mulher que decidiu ser prostituta, de Gabriela Leite por acaso, em uma das minhas visitas a Nobel de Araraquara. Minha orientadora vivia comentando a trajetória de Gabriela e uma de suas visitas a Unesp – “ela estudava na USP dos anos 60 e trabalhava num grande escritório, decidiu largar família, filha e virar prostituta”. Logo em seguida sempre acabávamos discutindo por alguns minutos um assunto sobre o qual nunca chegávamos à conclusão alguma: a prostituição necessitava ser considerada profissão como qualquer outra e, portanto, dever-se-ia tirar do Código Penal os “empregadores” das prostitutas para que eles pudessem assumir seus deveres trabalhistas para com elas (o que incluiria, por exemplo, o recolhimento de previdência social); ou olharíamos a prostituição como mais um dos exemplos de utilização e exploração do corpo feminino para o prazer do homem já que a prostituição de mulheres é muito mais recorrente. Sempre tendi ao primeiro caso.Bom, voltemos ao livro. Comprei no crédito e li em dois dias....Leitura gostosa, em primeira pessoa. Nada de alguém falando por Gabriela. Ela fala direto a nós, com direito a vários palavrões. Gabriela Silva Leite tem 59 anos, nasceu no dia 22 de abril de 1951 em São Paulo, é prostituta aposentada (sim, casada e aposentada). Baixinha que não abria mão de um salto alto, Gabriela, logo na primeira página do livro, apresenta as suas três paixões: “Adoro homens, gosto de estar com eles, e não conheço homem feio. Alimentam um amor imenso pela mãe e pelo próprio corpo. Magros ou gordos todos têm um belo corpo. Outra coisa que adoro é falar o que penso, sem papas na língua. Quem ler este livro vai perceber isso. Existe uma terceira coisa que eu prezo muito, talvez a que mais prezo, aliás, que é a liberdade, liberdade de pensar diferente, de se vestir diferente, de se comportar diferente”. Em plena efervescência dos anos 60, cursava sociologia na USP e trabalhava num grande escritório de São Paulo. Filha de uma dona de casa conservadora e de um empregado de cassinos só foi compreender e abraçar sua mãe depois de sair de casa e viver a sua vida. Freqüentadora assídua da boemia paulistana afirma que enquanto os amigos todos estavam na “pegada” das drogas, sua revolução particular passava por exercer livremente sua sexualidade.Hoje se dedica a defender a categoria e a regulamentação da profissão, coordena a ONG Davida fundada por ela em 1991 que pretende promover a cidadania das mulheres com ações nas áreas de educação, saúde, comunicação e cultura. A grife Daspu (nome inspirado na luxuosa boutique de São Paulo Daslu) gerou polêmica ao ganhar espaço na mídia e despertar o interesse internacional com seus desfiles ousados. De repente, seja possível o leitor lembrar-se dos dois blocos concedidos a Gabriela no Programa do Jô onde ela contou “sem papas na língua” os dez mandamentos da prostituta e os programas mais “diferentes” que já fez.Já o livro, impressionante! Não por se tratar de uma prostituta, aliás algo até comum em um país onde, Segundo a Fundação Mineira de Educação e Cultura (FUMEC) estima-se que haja em torno de 1,5 milhões de pessoas, entre homens e mulheres que vivem em situação de prostituição. Também, não pelo fato de Gabriela expor detalhes de seus programas alguns, nada “interessantes”, pois, ao contrário do que se pensa, vender sexo não está diretamente relacionado a ter prazer (e olha que esta mulher afirma gostar de fazer sexo). O que impressiona é justamente a decisão de largar uma vida estável para viver a prostituição. E o choque vem, pois ainda relacionamos a venda do corpo com o ganhar dinheiro, com o sustentar a família, com o tão injusto “sistema” que não aloca os indivíduos fazendo deles, como diz Bauman, o lixo da sociedade. Colocamos o sexo como mercadoria passível de ser vendido sem vinculo afetivo e, pronto, está justificada a prostituição e a figura da puta já está dada como vitima, coitada, ter que fazer isso. Gabriela não precisava de dinheiro e bem sabia que não se tratava somente disso e que o mundo dos desejos é vasto. Sabe também que as “mulheres tem um certo medo de ir a procura dos seus desejos”. Foi isso que ela fez, cansada da vida, cansada de acordar cedo, cansada das regulações familiares. Por dinheiro? Ele é bem vindo, afinal, em determinadas noites, se ganhava quase o equivalente ao mês trabalhado; mas, a principal motivação não foi essa. Um caso a parte? Não sei, nem posso saber. Mas, pra se pensar não é mesmo?Parte do que escrevi foi tirado da entrevista cedida por Gabriela ao programa Roda Viva. O Link: http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/723/entrevistados/gabriela_leite_2009.htm
Lara Facioli

Abri a conta desse blog em 2009 e só postei um texto de Clarice Lispector que, por sinal, adoro. Tentarei postar mais vezes aqui, não sempre, pois talvez não consiga adquirir o hábito de escrever com muita frequência, também por falta de tempo. Mas farei um esforço....
na verdade, a vontade voltou depois de postar no http://www.blogdocarniato.blogspot.com, um texto que estará logo acima....
O objetivo desse blog? Bom, talvez não tenha....só mesmo discutir alguns assuntos que me perturbam, que me deixam feliz, algumas provocações....essas coisas que a gente faz pela net....
abraços