sexta-feira, 9 de julho de 2010

Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher????



"Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher" foi a frase dita pelo monstro Bruno alguns dias antes de atuar como mandante do assassinato da ex-amante Eliza Samudio. Bruno, quando afirmou tal frase, parte ainda constitutiva do imagináro de inúmeas pessoas, fazia referência ao caso do amigo de trabalho Adriano, que, pelo que parece, também gostava de se "divertir" dando tabefes na sua namorada.
O que mais me impressiona ainda nos casos de violência contra a mulher vai além da crueldade dessas histórias e falarei disso adiante. Agora, faço questão de enumerar aqui alguns casos antigos e marcantes, pois acredito que tais histórias não podem nunca ser esquecidas:

1)Angela Diniz, socialite mineira morta aos 32 anos, na tarde de 30 de dezembro de 1976, a tiros durante uma discussão com Doca Street, na época seu namorado. Vale dizer, Doca no primeiro julgamento foi condenado a somente dois anos de prisão baseado na tese de legítima defesa da honra do criminalista Evandro Lins e Silva. Devido às manifestações do movimento feminista da época e da sociedade civil, Doca foi levado a um segundo julgamento onde pegou uma pena de 15 anos, dos quais cumpriu somente cinco. Hoje está em liberdade, casado, aposentado e ainda tira uns trocos com a venda de um livro que publicou sobre o assassinato de Angela. No livro, conta que bebeu whiskey e nadou na piscina de sua mansão após matar a mineira, se diz um cara calmo e arrependido. E, pasmem, todas as matérias sobre Doca que li para escrever esse post, eu disse TODAS (apresentadas nas "Veja" e "Isto é " da vida, como sempre), nos remetem ao sentimento de compaixão para com esse cruel assassino.



2)Eloá, jovem de 15 anos, morta por seu namorado Lindemberg Fernandes Alves, após 100 horas mantida em cárcere privado. Policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) e da Tropa de Choque da Polícia Militar de São Paulo explodiram a porta - alegando, posteriormente, ter ouvido um disparo de arma de fogo no interior do apartamento - e entraram em luta corporal com Lindemberg, que teve tempo de atirar em direção às reféns matando Eloá. Impressionante nesse caso foi a atuação estúpida da polícia que invadiu o apartamento somente depois das 100 horas de cárcere; permitiu que Nayara (menina de branco na foto abaixo), amiga de Eloá, já liberta pelo assassino, voltasse ao apartamento para as negociações; e permitiu que Sônia Abrão (isso mesmo, Sônia Abrão, aquela senhora que insiste em se afimar como jornalista) intervisse diretamente nas negociações com Lindemberg, por telefone, exibindo a conversa, ao vivo, no seu programa na Rede TV. A incapacidade da polícia em lidar com esses casos valeria um outro post no blog, quem sabe...


3)Maria da Penha, mulher que deu nome a Lei de proteção às vitímas de violência, agredida pelo marido, que tentou assassiná-la duas vezes, durante seis anos. Com uma arma de fogo, deixou Maria paraplégica. A segunda tentativa foi por eletrocução e afogamento. O marido de Maria da Penha só foi punido depois de 19 anos de julgamento e ficou apenas dois anos em regime fechado. Em razão desse fato, o Centro pela Justiça e Direito Internacional e o Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), juntamente com a vítima, formalizaram uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, o que contribuiu, posteriormente, para a efetivação da Lei.


Voltamos então àquilo que eu disse acima, o que mais me impressiona nos inúmeros casos de violência contra mulher. Geralmente, temos um ciclo de violência e, chamamos ciclo, uma vez que as fases abaixo acontecem nessa ordem e sem interrupção:

Fase de Aumento de Tensão: A tensão do agressor aumenta por diversas razões e o seu comportamento torna-se bastante agressivo e indiferente ao esforço da vítima em acalmá-lo. Na relação violenta o aumento de tensão leva quase sempre ao uso de violência física e psicológica.Geralmente, a violência psicológica acontece antes do espancamento em si. E vale dizer, esse tipo de violência simbólica é tão cruel quanto a violência física.

Fase de Explosão: A violenta explosão ocorre no seguimento de um ataque de raiva, ou durante uma discussão. Estas explosões tendem a aumentar a intensidade com o passar dos anos.

Fase de “Lua-de-mel”: Se a reconciliação ocorre o casal pode passar por momentos muito íntimos, onde nenhuma das partes recordará a violência passada. O agressor pode ser comunicativo e responder às necessidades da vítima que acredita na mudança dele.

As mulheres agredidas, grande parte das vezes, dão queixa numa delegacia de mulher especializada como aconteceu com Eliza Samudio (vale dizer que muitos casos de violência acabam se mantendo por medo da vítima de realizar a denuncia, mas destes não podemos falar, pois não temos estatísticas registradas, só podemos imaginar que eles existam. E, uma vez sabendo de sua existência, vale aquele trabalho de "formiguinhas," quem sabe uma conversa com a mulher violentada. Afinal, quem nunca soube de um desses casos "escondidos", que circulam boatos pelo bairro?). A ex-amante de Bruno prestou depoimento em uma Delegacia de Mulher, acusando o goleiro de agredí-la e de fazer com que ela ingerisse um líquido abortivo. Pois bem, nada foi feito, ela não foi protegida como se esperava, o goleiro não foi chamado para dar explicações e as investigações sobre o caso só começaram depois de uma denúncia anônima que apontava para um lago e para uma possível morte. Morte sim, mas não no lago....

Então, o que mais me impressiona é a falta de eficiência na aplicação de uma lei que garanta a segurança da vítima de violência. Nada entendo de direito criminal nem mesmo de direito civil, portanto, não sei até que ponto é possível uma interferência efetiva no caso de qualquer tipo de violência. Mas, não penso que seja admissível tamanho descaso, não penso que as coisas possam chegar a tal ponto. Eliza está morta, morte brutal, morte demorada e dolorida, possivelmente devorada por cães. E foi o goleiro, não diretamente, diretamente foi o "Neném", mas foi o goleiro........como se não bastasse as palavras ditas por Bruno "Qual de vocês (jornalistas) que é casado que nunca brigou com a mulher? Que não discutiu, que não até saiu na mão com a mulher, né cara? Não tem jeito. Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher, xará". Como se não bastasse as inúmeras agressões e a denúncia de Eliza, bem como o fato dela dizer que foi forçada a tomar remédios abortivos. Não, não bastou.....a gente tem o péssimo hábito de meter a colher tarde demais......