Esse post leva o nome do filme de Anne Fontaine sobre a vida da estilista que transformou a moda do século XX livrando as mulheres dos tais corseletes e de todas aquelas roupas terríveis que mais pareciam bolos de casamento. A poderosa Chanel não é retratada no filme; ao contrário do que se pensa, e como mostra o título, o que é posto em cena é a vida da orfã que costurava de dia e cantava nos cabarés franceses a noite. Uma menina séria, tímida e instrospectiva que fazia questão de se vestir como os homens da época. A frase que se repete no filme é: " Vou soltar esse vestido pra você se movimentar melhor" ou "eu tiraria esse arranjo, muito carnavalesco". Coco estava sempre de calça, camisa e com um chapéu bem masculino; fora que o sobretudo aparece sempre....tá, eu tenho uma "queda" por sobretudo....vou parar com isso...rs
Quanto à atuação de Audrey Tautou, sou suspeita para falar,ainda mais depois de Amélie Poulain (que consta no meu top 10). Acabei sendo levada a gostar de todas as protagonistas feitas por ela. Tautou possui uma sensibilidade incrível. Críticas a parte (e pode-se mesmo dizer que Chanel não foi tão bem feita como, por exemplo, Piaf em La Môme) Tautou conseguiu manter-se de testa enrugada e com o cigarro na boca, habitos típicos da estilista. Além do mais, como bem coloca a crítica do http://omelete.com.br/cinema/critica-coco-antes-de-chanel, "o filme não coloca o envolvimento de Chanel com nazistas, o que lhe rendeu uma prisão por crimes de guerra, um exílio de uma década e o ódio dos franceses. Tudo isso vai para sob o tapete, e a biografia da estilista ganha, cada vez mais, ares de história da carochinha. Uma carochinha muito bem vestida, aliás."
Pois bem, roupas incríveis (eu bem queria um dos vestidos e, claro, o sobretudo....rsrs), Tautou bem, mas nem tanto; não foi para fazer uma crítica cinematográfica que decidi escrever...
Além dos filmes dos anos 60 e dos filmes sobre os anos 60, me interessa bastante a vida dessas grandes mulheres que a história nos dá. Chanel foi uma delas e, durante o filme, assim como quando vi a obra sobre a vida da grande Edith Piaf, fiquei pensando no perfil dessas "divas".
Geralmente, uma mulher bem sucedida em sua vida profissional abre mão de viver um grande amor. No caso de Chanel isso é visível, ela nunca se casou (e não estou dizendo que casamento é sinônimo de amor bem sucedido, aliás, penso que seja o contrário, mas o casamento é algo bem discutido no filme ) e, vez ou outra dizia: "o melhor do amor é fazer amor, pena que precisa-se de um cara pra isso". Piaf também era bem avessa às "aventuras amorosas" e ao comportametno masculino, talvez por não ter uma boa e consistente imagem do "pai" (pode ser que Freud o explique, eu não farei isso aqui).
Nas duas histórias, elas eram as amantes da relação e o único grande amor vivído por elas é perdido de forma trágica, num acidente. Podia até ser um cena de ficção, não? Mas não é...
O filme também trás outras "questões de gênero", por exemplo, a companheira de Coco, que sonhava se casar com um dos barões da história e que não é apresentada a família do rapaz; a própria Coco vive uma relação de submissão com Étienne Balsan, homem que ela conheceu na noite parisiense, que nunca gostou nem aceitou seu jeito de ser e se vestir, jeito esse usado para a diversão da "bourgeoisie parisienne" frequentadora da casa de Balsan. Caso interessante de submissão este, uma vez que Coco sempre foi uma mulher independente financeiramente, o que mostra que a dependência financeira não é, muitas vezes, o que leva uma mulher a tocar uma vida submissa e limitada; poderíamos usar o habitus do Bourdieu pra argumentar sobre isso, mas o objetivo é mesmo levantar questões, sem recorrer à Acadêmia.
Mas Coco viveu essa vida por um breve período de tempo, até conseguir dinheiro para montar seu próprio ateliê....de onde vem o dinheiro? Do bolso de "Boy" Capel, o segundo homem da história, esse sim o amor de verdade. Aliás, outra frase que merece destaque nesse nosso debate de gênero é dita por ele -"eu achei que fosse te dar um brinquedo e vc transformou isso em trabalho"....idéia essa presente ainda no nosso repertório contemporâneo, lembrei quando Maluf disse que as professoras do Ensino Básico não deveriam querer ganhar mais, deveriam mudar de marido....lamentável....
Lembrei também dos meus trabalhos de campo da faculdade entrevistando mulheres que afirmavam ter sucesso profissional e pessoal e, mesmo assim, diziam sentir que faltava algo em suas vidas, esse algo era o filho, tão buscado e colocado ainda como necessário à mulher para que ela se sinta completa.....
Pois olha como um filme sobre a vida de uma mulher que viveu no início do século XX abre espaço para pensarmos questões ainda tão impregnadas em nosso imaginário atual. O casamento, ainda tão forte hoje em dia; a necessidade imposta às mulheres de que elas precisam, a todo momento, ter um homem do seu lado, mesmo que ele for um idiota (vide o bombardeio de livros de auto-ajuda destinados as solteiras, que levam títulos do tipo "Tenha sucesso profissional, mas, pelo amor de Deus, arrume um marido"); a submissão feminina que ainda se mantém e que, de forma alguma está somente vinculada ao dinheiro.
E, por fim, vale ressaltar, digo"as mulheres", porque não sinto as mesmas exigências em relação aos homens. Tá aberto o direito a defesa da ala masculina visitante do blog....por favor....rs
Beijos
Lara
Quanto à atuação de Audrey Tautou, sou suspeita para falar,ainda mais depois de Amélie Poulain (que consta no meu top 10). Acabei sendo levada a gostar de todas as protagonistas feitas por ela. Tautou possui uma sensibilidade incrível. Críticas a parte (e pode-se mesmo dizer que Chanel não foi tão bem feita como, por exemplo, Piaf em La Môme) Tautou conseguiu manter-se de testa enrugada e com o cigarro na boca, habitos típicos da estilista. Além do mais, como bem coloca a crítica do http://omelete.com.br/cinema/critica-coco-antes-de-chanel, "o filme não coloca o envolvimento de Chanel com nazistas, o que lhe rendeu uma prisão por crimes de guerra, um exílio de uma década e o ódio dos franceses. Tudo isso vai para sob o tapete, e a biografia da estilista ganha, cada vez mais, ares de história da carochinha. Uma carochinha muito bem vestida, aliás."
Pois bem, roupas incríveis (eu bem queria um dos vestidos e, claro, o sobretudo....rsrs), Tautou bem, mas nem tanto; não foi para fazer uma crítica cinematográfica que decidi escrever...
Além dos filmes dos anos 60 e dos filmes sobre os anos 60, me interessa bastante a vida dessas grandes mulheres que a história nos dá. Chanel foi uma delas e, durante o filme, assim como quando vi a obra sobre a vida da grande Edith Piaf, fiquei pensando no perfil dessas "divas".
Geralmente, uma mulher bem sucedida em sua vida profissional abre mão de viver um grande amor. No caso de Chanel isso é visível, ela nunca se casou (e não estou dizendo que casamento é sinônimo de amor bem sucedido, aliás, penso que seja o contrário, mas o casamento é algo bem discutido no filme ) e, vez ou outra dizia: "o melhor do amor é fazer amor, pena que precisa-se de um cara pra isso". Piaf também era bem avessa às "aventuras amorosas" e ao comportametno masculino, talvez por não ter uma boa e consistente imagem do "pai" (pode ser que Freud o explique, eu não farei isso aqui).
Nas duas histórias, elas eram as amantes da relação e o único grande amor vivído por elas é perdido de forma trágica, num acidente. Podia até ser um cena de ficção, não? Mas não é...
O filme também trás outras "questões de gênero", por exemplo, a companheira de Coco, que sonhava se casar com um dos barões da história e que não é apresentada a família do rapaz; a própria Coco vive uma relação de submissão com Étienne Balsan, homem que ela conheceu na noite parisiense, que nunca gostou nem aceitou seu jeito de ser e se vestir, jeito esse usado para a diversão da "bourgeoisie parisienne" frequentadora da casa de Balsan. Caso interessante de submissão este, uma vez que Coco sempre foi uma mulher independente financeiramente, o que mostra que a dependência financeira não é, muitas vezes, o que leva uma mulher a tocar uma vida submissa e limitada; poderíamos usar o habitus do Bourdieu pra argumentar sobre isso, mas o objetivo é mesmo levantar questões, sem recorrer à Acadêmia.
Mas Coco viveu essa vida por um breve período de tempo, até conseguir dinheiro para montar seu próprio ateliê....de onde vem o dinheiro? Do bolso de "Boy" Capel, o segundo homem da história, esse sim o amor de verdade. Aliás, outra frase que merece destaque nesse nosso debate de gênero é dita por ele -"eu achei que fosse te dar um brinquedo e vc transformou isso em trabalho"....idéia essa presente ainda no nosso repertório contemporâneo, lembrei quando Maluf disse que as professoras do Ensino Básico não deveriam querer ganhar mais, deveriam mudar de marido....lamentável....
Lembrei também dos meus trabalhos de campo da faculdade entrevistando mulheres que afirmavam ter sucesso profissional e pessoal e, mesmo assim, diziam sentir que faltava algo em suas vidas, esse algo era o filho, tão buscado e colocado ainda como necessário à mulher para que ela se sinta completa.....
Pois olha como um filme sobre a vida de uma mulher que viveu no início do século XX abre espaço para pensarmos questões ainda tão impregnadas em nosso imaginário atual. O casamento, ainda tão forte hoje em dia; a necessidade imposta às mulheres de que elas precisam, a todo momento, ter um homem do seu lado, mesmo que ele for um idiota (vide o bombardeio de livros de auto-ajuda destinados as solteiras, que levam títulos do tipo "Tenha sucesso profissional, mas, pelo amor de Deus, arrume um marido"); a submissão feminina que ainda se mantém e que, de forma alguma está somente vinculada ao dinheiro.
E, por fim, vale ressaltar, digo"as mulheres", porque não sinto as mesmas exigências em relação aos homens. Tá aberto o direito a defesa da ala masculina visitante do blog....por favor....rs
Beijos
Lara